Nasci nessa seita e fui programada para acreditar que somente nela se caminhava para a eternidade, não tive escolha. Foi um processo de descobertas e medos. Tudo começou em dezembro de 2021, quando minha irmã comentou que nossa outra mana não acreditava mais na mensagem e que William Marrion Branham não era profeta. Fiquei impactada com a conversa, porém, ela parou ali e não quis continuar no assunto. Nem dormi aquela noite. No outro dia bem cedo, mandei uma mensagem via WhatsApp para essa nossa mana e disse: “Olha, eu tive uma notícia assustadora sobre você e não vou ficar perguntando para ninguém, vou direto na fonte: é verdade que vocês (no caso ela e o esposo) não creem mais na mensagem e nem no profeta?” Ela visualizou duas horas depois e levou um dia inteiro para me responder. Eu trabalhei aquele dia no automático. À noite, ela me mandou um áudio dizendo: “Não quero te influenciar em nada, ainda estamos estudando sobre esse assunto, mas quanto mais estudamos, mais absurdos vemos. Está tudo na Internet, se você quiser, veja com seus próprios olhos porque não queremos ser julgados depois como más influências.” Aquilo me deixou com medo, porém, há algum tempo que coisas absurdas e sem lógica (porque a primeira coisa que uma seita tira, rouba da gente, é o raciocínio lógico) estavam me deixando indignada. Daí para frente, fui estudando e me libertando.
Sobre os impactos da Mensagem… Não há um único maior impacto, são muitas coisas. Mas uma coisa louca foi a divisão familiar. Hoje, presa lá de irmandade carnal, somente minha mana mais velha e meu genitor. Digo genitor porque aquele homem conseguiu destruir nosso psicológico por toda a vida. Uma história de abusos mental e sexual, manipulação, medo e daí depois dos 40 anos consegui verbalizar. Então, tivemos a triste e mais doida descoberta: minha filha também foi vítima dele. Eu e minhas irmãs, primas e tantas outras crianças. O que mais me machucou foi entender que eu poderia gritar para o mundo inteiro ouvir e quase ninguém acreditava. Da seita, ninguém nos ajudou ou apoiou, afinal somos perdidos, nunca tivemos revelação e blá-blá-blá. Ninguém se aproxima da gente, se quer nos cumprimentam.
Alguma coisa que me revoltava? Milhares de coisas. Imagine você ouvir a vida toda que casamento interracial é pecado, se você só se interessa pelo tom de pele oposto ao seu. Meu Deus, quando li pela primeira vez a tal mensagem sobre casamento e divórcio, fiquei impactada. Contei para minha mãe os absurdos que continha ali (entenda que aqui na nossa cidade essa mensagem nunca foi liberada para as mulheres, somente aos homens). Então, minha mãe deixou de crer nesse falso profeta na mesma hora, afinal de contas ela sempre ouviu do meu genitor que essa mensagem era para pessoas fortes, espírito fraco cairia mais ainda, malandragem pura, né? Então, depois de 49 anos de casamento, minha mãe conseguiu se libertar dele e se separou.
Algo bom na mensagem? Nada, porque eu poderia dizer as amizades, mas não tenho nenhuma amizade de lá, então concluo que nunca as tive.
Para quem está lá, nem sei o que dizer. Eles não nos permitem, mas se eu pudesse, eu lhes diria: se vocês são tão espíritos evoluídos, qual o problema de ouvir alguém que tem pensamentos diferentes dos seus? Se permitam o benefício da dúvida. E para quem está no processo de sair de lá, porque já saiu, não significa que está totalmente limpo daquela droga viciante de julgar e condenar. Eu diria: o caminho é longo, doloroso, porém libertador. Um Deus tão grande e maravilhoso como o nosso não criaria somente um pouquinho de “eleitos”, ele tem um céu vasto e gigante para nós.
Testemunho Anônimo.
Sobrevivente de um Naufrágio.
A imagem escolhida, representa as mulheres, pois nós não podemos falar.