Carie Siltala

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Olá! Meu nome é Carie Siltala. Eu sou do Canadá. Aqui está a minha história.

Eu estive na Mensagem dos 7 aos 18 anos no Canadá. Este acabou sendo um capítulo muito longo e sombrio em minha vida. Antes dos sete anos dos sete anos eu tinha uma infância maravilhosa. Foi o irmão de minha mãe quem a apresentou à Mensagem. O nome dele era Wayne. Ele tinha… Wayne teve uma vida difícil. Ele era basicamente um vigarista de rua que se tornou um pregador religioso santo da noite para o dia. Quando minha mãe foi para a mensagem causou o divórcio dos meus pais já que meu pai não tinha interesse na Mensagem. Além disso, meu tio Wayne aconselhou minha mãe que ela tinha que confessar todos os seus pecados.

E então ela teve que confessar todas as pessoas com quem ela tinha sido promíscua durante o casamento. E acabou sendo uma lista muito longa que incluía amigos, vizinhos, colegas de trabalho e até mesmo membros da família. Wayne então apareceu uma manhã enquanto meu pai ainda estava na cama. Ele entrou no quarto dos meus pais e começou a bater no meu pai. O Senhor o “instruiu” a fazer isso. Eles não falavam. Tudo que eu conseguia ouvir eram pancadas. Eu podia ouvir meu pai sendo jogado contra a parede e escorregando. Eu estava com muito medo, e fui para a cozinha onde minha mãe e a noiva de Wayne estavam sentadas lá, rindo. Elas acharam engraçado.

Esse foi o dia em que meu pai foi embora. E sempre penso nesse dia como o dia em que a música morreu para mim. Nesse ponto, eles jogaram fora todas as minhas calças, meus shorts, minha TV, meus jogos, meus brinquedos. E minha mãe, meu irmão e eu nos mudamos para o extremo norte da cidade pagando aluguel em moradia de baixa renda. O local de aluguel estava cheio de crentes da Mensagem tanto que se referiam a ele como “lugar cristão”.

Wayne também vivia no “lugar cristão”. Meu tio Wayne levou meu irmão de dois anos para passear, e ao voltarem, ele afirmou que meu irmão estava cheio de espíritos malignos e ele estava profundamente perturbado. Ele fez uma avaliação semelhante a meu respeito. Eu não tinha ideia de quais ações isso invocaria. Mas eu logo descobriria. Também me disseram que meu irmão de dois anos era agora o homem da casa e eu precisava obedecê-lo. Eu também só poderia me referir a meu tio e minha mãe como senhor e senhora. Começamos a frequentar a igreja.

Meu tio tinha grande interesse em nos salvar. Ele explicou que ele precisava expulsar os espíritos malignos de nós com surra. Minha surra tornou-se no mínimo um ritual diário. Quando começava, ele aumentava a música evangélica no volume máximo, dizia para me curvar no sofá ou nas escadas. Ele então tirava o cinto, arregaçava as mangas e começava a chicotear. No início foi extremamente doloroso e acho que eu estava chorando. Ele me disse que iria continuar até que eu ficasse quieta. Então, aprendi a segurar o choro, a não dar um pio. Durante o culto na igreja, lembro-me de ouvir com muita atenção ao pastor. Eu queria ser uma pessoa boa e queria estar no caminho para o bem.

Lembro-me no início do ministro falando sobre como a igreja católica era uma prostituta. E eu soube imediatamente, isso não era legítimo. Qualquer um que precise rebaixar outra religião de tal maneira, não era de Deus. E um bom produto se vende sozinho. Você não deveria ter que menosprezar e rebaixar as outras … excomungar as crenças dos outros, a fim de mostrar que sua religião é real. Eu ouvia os ensinamentos de William Branham. Estava tocando o tempo todo. Tive dificuldade em acreditar que pessoas tão boas, maravilhosas e amorosas seguiria as predições, profecias e ensinamentos deste sem instrução, aparentemente humilde e, ainda assim, autoproclamado profeta. Eu observava todos na igreja enquanto eles ouviam, chorando, balançando para frente e para trás, gemendo, “Aleluia, Jesus”. Se era uma revelação, eu não a tinha. Eles pregavam que o irmão Branham predisse o arrebatamento. O primeiro de que me lembro foi em 1985. E quando isso não acontecia, todo ano sempre havia algum motivo, como, “Oh, estamos usando um calendário gregoriano, e o irmão Branham estava usando o calendário judaico,” ou alguma outra explicação. Sempre havia outra explicação. “E, oh, com esses novos cálculos, o arrebatamento é agora em 1986.” E assim por diante.

Sabe, me deixava triste o fato de as pessoas na igreja viverem suas vidas como se não houvesse amanhã. Elas não se preocupavam com educação ou bons empregos. Porque qual é a lógica se o mundo está acabando, certo?

E elas também ficavam em constante estado de pânico quando não conseguiam contatar alguém quando ligavam para ela. Elas ficavam preocupadas. Será que perderam o arrebatamento porque não terem fé o suficiente? Isso sempre me deixava tão triste por ver o quão oprimidos e ansiosos os ensinamentos desta igreja deixava alguns dos crentes genuínos e bons da Mensagem.

As surras aumentaram e eu me esforçava para sobreviver. Eu nunca sabia quando a surra iria acontecer. Manhã, meio-dia, meio da noite. Eu não sabia. Normalmente, eu era levada para o porão, aumentava o volume da música e tinha de tirar toda a roupa e me curvar. Às vezes ele molhava o cinto. Às vezes ele usava uma correia, às vezes um chicote. Às vezes, seu cinto. E ele chicoteava em qualquer lugar abaixo do meu pescoço até acima dos meus joelhos. Em um momento comecei a sair do meu corpo e pude ver tudo de cima, mas não senti dor.

Só um minuto.

Uma noite… Na verdade, na escola, antes de entrar na Mensagem, eu era muito popular. Mas depois que eu fui para a Mensagem, eu apenas fiquei conhecida como a menina da igreja, uma esquisita. Diziam-me que estamos neste mundo, mas não somos deste mundo e não devemos falar com estranhos. Eu observada as crianças na minha sala e tão desesperadamente queria ser uma delas. Eu queria que elas vissem que eu era normal. Eu não era estranha. Eu era como uma delas. Minha mãe e meu tio Wayne costumavam vir para a escola e me vigiar. E se eu falasse com qualquer uma das crianças, eu apanhava naquela noite. Uma noite, meu tio Wayne entrou no meu quarto enquanto eu estava dormindo, e ele afirmou que o Senhor havia revelado a ele que eu tinha um espírito de roubo em mim e ele começou a me bater até que eu confessasse.

Então, em um esforço…

Eu não tinha pegado nada. E eu não sabia como acabar com as surras. Então, em um esforço para tentar acabar com isso, comecei a confessar. Citei um menino da minha sala e disse que tinha pegado uma borracha dele e, para meu desgosto, isso não acabou com a surra. Ele perguntou: “Quem mais?”

Então acabei citando minha classe inteira. E a surra acabou, e eu tive que ir à casa de todo mundo depois da escola e na frente de seus pais pedir desculpas pelo meu “roubo”. Foi tão humilhante. Oh, lembro que um menino me perguntou por que eu confessei. Por que eu não menti? E eu simplesmente não tive coragem de dizer a ele que toda a confissão era uma mentira.

Um dia, voltando da escola para casa, meus sapatos molharam com a chuva. Este era um espírito de preguiça. E como não cuidei bem dos meus sapatos, eu tinha que usar as botas de trabalho do meu tio para ir à escola todos os dias. Elas eram muito grandes e as crianças, se achavam que eu era uma esquisita antes, depois disso, eu realmente era uma esquisita. Outra forma de punição que era usada nos finais de semana durava várias horas, eles me faziam ajoelhar sobre essas saídas de aquecimento, com dois livros de enciclopédia sobre a minha cabeça, tinha que ficar assim por horas, e meus braços ficavam cansados e eu abaixava meus livros e era chicoteada nas costas. E meus joelhos queimavam de dor.

Eu orava diariamente por uma fuga. E a coisa que eu mais gostava de fazer quando passava pelas casas das pessoas era olhar pela janela da sala de estar e, por uma fração de segundo, fingir que essa era a minha vida. Os livros se tornaram meu melhor amigo. Tornei-me uma leitora proficiente. Eu lia de quatro a cinco livros por dia na escola.

Um dia eu estava lendo um romance de mistério de assassinato da Agatha Christie e a escola terminou, e eu não terminado, e eu tinha que descobrir como a história acabava. Então eu o escondi debaixo da roupa e levei para casa. Eu escondi o livro entre os colchões, e naquela noite, enquanto eu estava dormindo, eles entraram, me acordaram e começaram a me bater porque eu tinha um espírito de assassinato em mim. Nunca mais trouxe outro livro para casa depois disso.

Antes de entrar na mensagem, fui abusada sexualmente por um vizinho. Meu… Meu tio Wayne me disse que por causa disso eu tinha esse espírito de abuso sexual infantil e que eu abusaria de crianças sexualmente. A ideia disso me sufoca até hoje. Eu não deveria ser deixada sozinha com crianças.

Eu estava sempre tão preocupada e ansiosa para mostrar às pessoas que eu era boa e eu não faria mal a ninguém. E eu tenho um coração puro. Mas ter essas palavras gravadas em meu cérebro me trouxe muitos momentos de tremenda tristeza.

Desculpe-me! Desculpa!

Enquanto isso, na igreja, minha mãe se tornou a secretária da igreja e toda a nossa vida se tornou a igreja. A gente limpava a igreja. A gente ajudava a administrar a biblioteca de livros e fitas. A gente planejava piqueniques na igreja, convenções e reuniões especiais. Sempre havia dois cultos no domingo; um na quarta à noite; segunda-feira à noite, culto de oração; quinta à noite, embalagem de livros e fitas para enviar ao exterior; sexta-feira à noite, grupo de jovens; comunhão e vinho, sessões de lava-pés. Era muita igreja o tempo todo.

Eu sempre ouvia atentamente na igreja e debatia as palavras do pastor em minha cabeça. As mulheres sempre foram inferiores e as meninas também. As palavras prostituta e Jezabel eram usadas com frequência. A cozinha era o lugar das mulheres. Elas deveriam ser mansas e humildes, modestas e santas. Durante o culto, via muitos homens trazendo seus filhos para a sala de oração e surrar os filhos até verem estrelas. E quando os homens saíam, eles davam um momento de orgulho para os outros homens lá embaixo, quase como um toca aqui simbólico. Eu via as crianças saírem. Eu chamava a atenção delas e mandava meu amor para elas. Era como se tivéssemos um certo vínculo, um certo vínculo implícito que todos nós entendíamos o que estávamos passando, e estamos desesperados e desamparados para sair da situação. Abusos físicos, verbais e mentais não eram apenas aceitos. Eram encorajados e comemorados.

Eu também não gosto da atitude de muitos dos crentes de que eles eram melhores e mais santos, e que era normal ser odioso para com aqueles que não são crentes na Mensagem ou mesmo crentes na Mensagem que tinham crenças um pouquinho diferentes. Além disso, percebi que muitas vezes eles riam da desgraça dos outros. Eu acredito fortemente que as pessoas vão te dizer quem eles são por meio de suas ações. E eu realmente acho que se isso é Cristianismo, não, obrigado.

Sendo um pregador, meu tio aconselhava muitos. Sempre me deixava triste ver as pessoas acreditarem nele e escutarem seu conselho. Ele era bom de conversa. Ele podia facilmente ler as pessoas, o que o tornava um excelente manipulador. Eu vi seu conselho separar famílias. Vi alguns rapazes virem em casa para surras combinadas. Eu também o vi batendo na esposa. Tio Wayne agia pelo ego, não pela sabedoria ou espiritualidade.

Um ano, fizemos uma viagem de ônibus com outras pessoas da igreja para Ann Arbor, Michigan, para um acampamento bíblico. E no caminho passamos por Jeffersonville, Indiana e fomos ao Tabernáculo Branham. Lá em uma mesa fora da congregação, fora do santuário tinha uma mesa com a Bíblia e os óculos de leitura do irmão Branham. Minha visão era muito ruim e me disseram para colocar os óculos que Deus curaria meus olhos. Então eu os coloquei, estava totalmente cega, não conseguia enxergar nada, nada. Mas eu estava com medo de que eles dissessem: “Oh, você tem um espírito de incredulidade.” Então eu disse: “Sim, posso ver.”

E pelos próximos dois anos, foi literalmente um borrão. Não conseguia ver nada. Eu estava quase cega. Ao falar com as pessoas, eu tentava ouvir o tom delas e imaginar que reação elas tinham em seus rostos e tentava igualar e esperava que estava respondendo apropriadamente. Na escola, tinha que pegar emprestado as anotações das pessoas para enxergar a lousa.

O que eu mais gosto de fazer desde que nasci é nadar. Eu amo nadar. Mas desde que entrei na mensagem, não tive mais permissão para nadar. Meu irmão sabia nadar e outros meninos sabiam nadar, mas mulheres não. Enquanto estávamos no acampamento bíblico de Ann Arbor, Michigan, eu realmente fiquei triste porque eles tinham uma piscina e um lago, e eu fiquei desesperada para entrar em um deles.

Eu me senti como um peixe fora d’água. Eu estava tão desesperada para nadar. Eu pedi para ser batizada. E como eu fui uma das primeiras a subir, enquanto eles estavam batizando as outras pessoas, consegui nadar no lago e dar um ótimo mergulho. Valeu muito a pena. Nesse mesmo acampamento, passamos por uma fila de oração e quando você chegava à frente da fila de oração, eles realmente te davam uma bofetada na cabeça e você via estrelas e cambaleava, e eles diziam que você estava morto no espírito. E isso era o Espírito Santo. E então você chega na frente e só uma bofetada, e você simplesmente, “Ô”. E eu na verdade não sei. Eu realmente olhava em volta e me perguntava: “As pessoas realmente acham que isso é o Espírito Santo?” “Ele bateu na nossa cabeça.” Eu não sei.

Todos acharam que aquela viagem foi uma revelação para mim. Você sabe, eu fui batizada, e o milagre dos meus olhos sendo curados, mas a realidade é que eu estava quase cega, mas fiquei feliz por ter conseguido nadar e viajar.

Um dia, meu tio Wayne veio jantar. Eu estava varrendo o chão e me esforçava muito porque eu não conseguia enxergar o chão. Eu estava tentando cobrir cada centímetro. Eu tinha deixado passar uma parte e ele me deu um tapa no rosto. E eu cambaleei para trás e a porta do porão estava aberta. Desci um lance de escadas, os degraus de madeira terminavam lá embaixo, eu bati no concreto. Quando bati lá embaixo, meus dois joelhos se deslocaram. Dor insuportável. Eu estava gritando. Wayne desceu imediatamente. Ele me encarou e disse: “Por que Carie, por quê? O que você fez para desagradar ao Senhor? Por que Carie, por quê? O que você fez para desagradar ao Senhor?” Ele ficava dizendo isso sem parar. Ele não tirava a cara da minha frente. Estou gritando sem parar. Os paramédicos vieram, pediram para ele sair.

E meu joelho esquerdo nunca sarou. Acabei fazendo um total de nove cirurgias no joelho, e a mais recente foi uma substituição total do joelho.

Outra vez, depois de um fim de semana na casa do meu pai, quebrei o pé. E minha mãe disse ao meu pai para me deixar na porta da igreja onde ela e tio Wayne estavam esperando por mim. Eles me escoltaram de muletas até a sala de serviço da igreja e começaram a me bater. E Wayne disse: “Eu não sei o que você fez para desagradar ao Senhor, mas isso não é nada comparado com o que vou fazer com você.”

Ao longo da minha vida adulta, tenho lutado para seguir em frente da crença de que, quando coisas ruins acontecem, a culpa é minha. É por causa de minhas ações. Minha mãe era uma participante muito ativa no abuso. Ela também era muito promíscua na igreja com o pastor, com vários membros da congregação. Ela trabalhava na igreja em tempo integral e muitas foram as noites que ela não voltou. A Mensagem não permitia que ela se casasse novamente, mas parecia que estava ótimo ser uma concubina. Uma vez, um diácono que tinha cinco esposas… Não, desculpe, um diácono que tinha uma esposa e cinco filhos vivia ligando e perseguindo minha mãe. Eles tiveram um caso e ele achava que eram almas gêmeas. Então, um caso que deu errado. E me sentia péssima pela esposa e pelos filhos.

Nós tivemos uma formatura do colégio da igreja, eles escolheram um homem e uma mulher para serem os oradores da turma. Então, eu fui a oradora da turma. Eles não esperavam muito desta mansa e humilde, modesta e santa irmã, mas eu escrevi e fiz um discurso que deixaram todos boquiabertos. E eu senti pena do pobre irmão que teve que me seguir, meu ato, com uma pregação leve para seu discurso de orador.

Meu tempo na Mensagem terminou quando fiz 18 anos. Eu estava orando por esse dia nos últimos dez anos. Ele finalmente chegou e eu estava pronta para me mudar para outra cidade. Liberdade. Eu fui ao pastor. Eu queria que ele soubesse que estava saindo e queria ser franca. E eu queria que ele soubesse que não iria embora porque eu queria festejar ou pecar. Eu estava saindo porque não acreditava e não queria ficar e ser uma hipócrita. Ele ficou muito frio e me disse que eu tinha um espírito de incredulidade e que eu precisava sair imediatamente antes que espalhasse para quaisquer outros membros. Eu senti uma tristeza profunda com sua resposta. Eu esperava que houvesse um lado humano nele depois de todo o tempo que passamos juntos.

Mas, no meu caso, isso não era, não era para ser. Deixar a mensagem foi definitivamente a melhor decisão que eu poderia ter tomado. O abuso e a opressão não são de Deus e de jeito nenhum para se viver.

Desculpe-me!

Achei que, uma vez que tivesse liberdade, tudo ficaria bem. Acabei aprendendo que é muito mais uma jornada. Uma jornada de cura. Uma jornada de autodescoberta, descobrir o que você acredita e o simples fato de olhar para este mundo incrível ao nosso redor. Ainda estou trabalhando na recuperação. Uma recuperação em andamento para se sentir segura e digna de amor e felicidade.

Já se passaram 27 anos desde que deixei a igreja. Mas estou realmente grata por ter encontrado amor e paz em meu coração.

Que Deus abençoe a todos. Desejo-lhes luz e amor em sua jornada.

Obrigada por ler.

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