Será mesmo que Branham viu “Vicarius Filli Dei” na tiara papal?

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Quem foi ou é participante da “mensagem” deve se lembrar muito bem de William Branham dizendo ter visitado o vaticano e ter visto “o papa usando uma coroa tríplice”, e que ele mesmo viu e verificou isso conforme a Bíblia e que na coroa estava escrito “Vicarius Filli Dei”. Confira na mensagem perguntas e respostas um trecho dele mesmo afirmando:

PERGUNTAS E RESPOSTAS SOBRE HEBREUS - 3ª PARTE
06 de Outubro de 1957
Jeffersonville - Indiana - E.U.A.

187 - Eu estive ali na Cidade do Vaticano e verifiquei isto com a Bíblia. O papa usando uma coroa tríplice, Vicarius Filii Dei, todas aquelas coisas que eu ouvi e assim por diante, são absolutamente a verdade. Um grupo religioso que governa cada nação sob os Céus, e ela o faz. Aí está; é assim.

Rev. William M. Branham
App A Palavra Original
Um exemplo de uma tiara papal. Ao contrário das alegações de William Branham, nenhuma tiara foi inscrita com a frase Vicarius Filii Dei.

O número 666 e o Vicarius Filii Dei

Branham mentiu quando disse ter visto o titulo Vicarius Filli Dei, pois não há nada disso escrito em nenhuma das coroas papais, assim como visto na imagem anterior que é uma das coroas do Vaticano. Mas então onde foi que surgiu este titulo a final de contas?

O documento “Doação de Constantino” é a referência mais antiga desse suposto título. Tendo sido escrito durante a idade média e é o mais antigo relato eclesiástico que confere a Pedro a autoridade de ser “substituto do Filho de Deus”. Ou seja, é uma frase usada pela primeira vez na forjada Doação medieval de Constantino para se referir a São Pedro, que é considerado o primeiro Papa pela Igreja Católica. O primeiro exemplo conhecido da frase Vicarius Filii Dei está datada entre os séculos VIII e IX d.C.

It et cuncto populo Romanae gloriae imperij subiacenti, ut sicut in terris vicarius filii Dei esse videtur constitutus etiam et pontifices

Vários papas usaram a frase e a citaram em todos os seus documentos, incluindo o seguinte:

  • Papa Leão IX em seu In Terra Pax Hominibus, 1054
  • Papa Nicholaus IV em sua carta a Caydonius, o Tártaro, 1289
  • Papa João XXII em seu Licet juxta doctrinam, 1327
  • Papa Paulo VI em seu Rivi Muniensis, 1965 e em seu Bafianae, 1968

Por quase 600 anos, o catolicismo o considerou como genuíno, mesmo porque aproximadamente dez papas o utilizaram como prova de sua autoridade temporal. A menção do nome Constantino sugere que esse documento deve ter sido escrito nos dias desse imperador, no século 4 d.C..

Porém, Lorenzo Valla, por algum tempo secretário do papa humanista Nicolau V, em 1440 escreveu uma crítica literária e histórica demonstrando que a Doação de Constatino era um documento forjado, que provavelmente foi composto em meados do século 9 d.C.

Os católicos responderam a essas reivindicações protestantes observando que “Vicarius Filii Dei” nunca foi um título papal oficial. Eles também respondem às alegações de que “Vicarius Filii Dei” estaria escrito na Tiara Papal dizendo que verificaram as mais de 20 tiaras papais ainda existentes – incluindo aquelas em uso em 1866 durante o reinado do Papa Pio IX, quando Uriah Smith fez sua reivindicação – mostra que nenhuma tem essa inscrição, e que não há evidências em nenhuma das tiaras papais.

Alegações Protestantes

Alguns protestantes alegavam que o titulo era usado pelos papas e que até mesmo estava gravado em sua tiara/mitra. O escritor protestante mais antigo a relacionar a expressão Vicarius Filii Dei ao número 666 foi o alemão Andreas Helwig ( 1572-1643). Esse erudito foi professor de línguas bíblicas e letras clássicas por quase três décadas. Em 1612, Helwig escreveu sua obra Antichristus Romanus, na qual reuniu 15 títulos nas línguas latina, grega e hebraica, que na soma de suas letras dariam a cifra apocalíptica. Tal obra não enfatizou o título Vicarius Filii Dei, mas o considerou apenas como mais uma das pretensões da Igreja de Roma. Segundo Helwig, quatro fatores eram essenciais para um nome ser aplicado ao número apocalíptico:

(1) a soma deveria dar a cifra correta
(2) teria que concordar com a ordem papal
(3) deveria ser um nome do próprio anticristo, não um título dado por seus inimigos
(4) teria que ser um título usado pelo anticristo para a sua auto-ostentação.

Porém, essa interpretação se tornou comum entre autores de diversas denominações em meados da Revolução Francesa (1789-1799), quase duzentos anos após a publicação de sua obra.

Autores protestantes como:

Amzi Armstrong (1771-1827)

Os presbiterianos William Linn (1752-1808), David Austin (1760-1831) e Robert Shimeall aplicaram ao número 666 os títulos Ludovicus (latim), Lateinos (grego), Romith (hebraico) e Vicarius Filii Dei. Referente a esse último, John Bayford, em sua obra Messiah’s Kingdom (1820), afirmou que sua utilização era “dificilmente satisfatória” e que a expressão correta ainda estava para ser descoberta.

Percebe-se, assim, que desde o século 19, já havia certa relutância em aplicar.

Interpretações Adventistas:

Foi por meio dos trabalhos de Uriah Smith, decano da interpretação profética nos círculos adventistas, que se atribuiu a expressão Vicarius Filii Dei ao papado.

Smith assim entendia: a expressão mais plausível que temos visto sugerir contendo o número da besta é o título que o papa toma para si mesmo e permite que outros lhe apliquem. Esse título é Vicarius Filii Dei, que quer dizer “Substituto do Filho de Deus”. Tomando as letras desse título que os latinos usavam como numerais e dando-lhes seu valor numérico, temos exatamente 666.

Como podemos ver no livro “A Reforma”, no qual provavelmente William Branham se inspirou:

O nome mais plausível que já vimos sugerido como contendo o número da besta, é o título blasfemo que o papa aplica a si mesmo e usa em letras de joias em sua mitra ou coroa pontifícia. Esse título é este: Vicarius filii Dei: “Vice-gerente do Filho de Deus.” Tirando as letras deste título que os latinos usam como numerais, e dando-lhes seu valor numérico, temos apenas 666. Assim, temos V, 5; I, 1; C, 100; (a e r não usados como numerais;) I, 1; U (anteriormente o mesmo que V), 5; (s e f não usados como numerais;) I, 1; L, 50; I, 1; I, 1; D, 500; (e não usado como numera Somando esses números, temos apenas 666.

– Livro A Reforma – 1832

William Branham admite ter lido os livros de Smith:

A MARCA DA BESTA
17 de Fevereiro de 1961
Long Beach - Califórnia - E.U.A.

61 - Eu vou chamar a atenção para uma igreja denominacional, a primeira igreja que falou comigo a respeito de Jesus Cristo quando eu era um pecador, os Adventistas do Sétimo Dia. Os Adventistas do Sétimo Dia disseram que o selo de Deus é o Seu sábado, porque um selo mostra uma obra consumada, pois Ele foi selado no sábado. E guardar o dia de sábado é uma lembrança de que você está selado. Agora, vocês adventistas sabem disto, vocês conhecem o Dr. Smith, o Círculo Bíblico de Leitura do Lar e tudo isto. Eu os tenho todos em meu escritório, e tudo das Testemunhas de Jeová e demais coisas assim. Onde -- seja onde for que se levantarem, eu conheço os seus pontos. Veem? Eu sei para onde eles estão indo. Então agora, o dia de sábado não é um selo. O dia de sábado foi um selo da criação de Deus. Ele terminou isto então e o selou (Isto é correto.) com o Seu sábado. Mas isto era um tipo do sábado cristão.  Agora, Ele havia terminado a Sua criação, Ele lhes deu o sábado como um selo (Isto é exatamente correto.) mostrando que Ele consumou Sua criação. Então quando Ele terminou Seu plano de salvação, Ele tinha outro selo. Glória. 

Rev. William M. Branham
App A Palavra Original

Branham dando sua explicação para o número 666:

O NOME DE JESUS
28 de Setembro de 1958
Jeffersonville - Indiana - E.U.A.

32 - Disse: “Aqui está para aqueles que têm sabedoria.” Nós encontramos que o Espírito continuou falando claramente: “Àquele que têm sabedoria, àquele que têm conhecimento, àquele-os diferentes espíritos, os dons.” Não vê você que Deus está movendo aquela Igreja nos últimos dias? Tem que se levantar uma Igreja cheia dos dons espirituais, os verdadeiros dons de Deus. “Aqui está para aquele que tem sabedoria. Conte o número da besta, pois é o número de um homem. Seu número é 666.” E nós encontramos onde aquilo estava exatamente, não poderia ser mais perfeito. Escreva você mesmo: Vicarius, o que é vigário de Cristo, Filii de Deus-Vicarius Filii Dei e veja se isto não-nos algarismos romanos-E veja se você não obtém 666. Veja se não dá certo, não sobre algo mais que lhe dê superstição disto ou daquilo, mas no próprio lugar onde o resto das Escrituras diz que estaria assentado. E aqui somos Protestantes saindo de...

Rev. William M. Branham
App A Palavra Original

No entanto, Uriah Smith admitiu que nunca viu a frase e reconheceu que ela apareceu pela primeira vez em um documento forjado, A Doação de Constantino, que foi criado em algum momento do século VIII. Porém Branham não deve ter lido essa parte, ou ele simplesmente quis abraçar essa ideia.

A interpretação de Smith causou um impacto significativo no adventismo, a ponto de John N. Andrews, o expoente teológico mais importante dessa denominação, adotá-la na reimpressão de sua obra The Three Angels of Revelation XIV, 6-12, em 1877.

Os anos posteriores presenciaram uma expansão dessa visão, por meio dos trabalhos públicos e impressos de alguns evangelistas adventistas ao redor do mundo.Stephen. N. Haskell, por exemplo, ao tratar do tema de Apocalipse 13, enfatizou apenas Vicarius Filii Dei.

O mesmo foi feito pelo autor brasileiro Aracely Mello ao afirmar que existem “fatos comprobatórios de que Vicarius Filii Dei é o título verdadeiro do papa e de Roma Papal.” Roy Alan Anderson, importante nome no evangelismo adventista, utilizou títulos como stur (aramaico), italika ekklesia, he latine Basiléia (grego) e Vicarius Filii Dei (latim). Por sua vez, o evangelista argentino Daniel Belvedere limitou a interpretação do número 666 à expressão “substituto do Filho de Deus” onde C. Mervyn Maxwell adotou essa mesma posição.

Esse quem sabe seja o principal motivo para o título Vicarius Filii Dei ser associado com Apocalipse 13:18 por tantos adventistas. Porém, por mais popular que seja essa interpretação, é inegável que existem inúmeros problemas na sua aplicação ao relato bíblico.

Problemas Interpretativos

Essa interpretação se baseia num falso decreto da Idade Média. Da mesma forma, há certa controvérsia envolvendo a inscrição de Vicarius Filii Dei na mitra papal. A publicação Our Sunday Visitor, uma popular revista católica americana, mencionou por duas ocasiões que havia, de fato, uma inscrição na tiara do papa.

A primeira menção foi em 1914, e a segunda no ano seguinte. Porém, existe uma terceira citação que nega qualquer tipo de inscrição na coroa do pontífice romano. E não há qualquer tipo de evidência que prove o contrário.

Esse assunto teve início com um incidente envolvendo W. W. Prescott, um dos pioneiros da segunda geração adventista. Um evangelista chamado C. T. Everson visitou o Museu do Vaticano e tirou algumas fotografias de diversas tiaras papais, usadas ao longo dos séculos. Nenhuma inscrição havia em sequer uma delas.

Prescott foi autorizado a utilizar as fotos na ilustração de um dos seus artigos. Porém, a Southern Publishing Association, quando preparava a publicação da versão atualizada da obra de Smith, contratou um artista que inseriu as palavras Vicarius Filii Dei.

A sede mundial da Igreja Adventista ordenou que a impressão fosse interrompida e que removessem as fraudes fotográficas. Em 1935, a revista Our Sunday Visitor desafiou o periódico adventista Present Truth, que nessa época tinha como editor Francis D. Nichol, a provar que a expressão “substituto do Filho de Deus” era um título oficial do papa.

Nichol consultou Prescott para solucionar esse problema. Prescott afirmou que não era possível responder ao desafio, já que os adventistas baseavam essas argumentações em fontes questionáveis. Devido a esse incidente, a sede mundial da IASD sugeriu que tal interpretação jamais fosse utilizada novamente. Ironicamente, hoje essa é a interpretação mais popular entre os adventistas.

Em novembro de 1948, Leroy E. Froom publicou sua resposta para uma pergunta referente à inscrição na tiara do papa. Após negar qualquer tipo de grafia na mitra papal, Froom afirmou que “como arautos da verdade, devemos proclamá-la verdadeiramente” e que “Em nome da verdade e honestidade este periódico protesta contra algum membro da associação ministerial da denominação adventista do sétimo dia”.

Segundo ele, “A verdade não necessita de fabricação para ajuda la

O uso da expressão Vicarius Filii Dei aplicado ao número 666 de Apocalipse 13:18 é controvertida e questionável. Visto que sua origem está ligada a um documento forjado, como declarou Froom, nesse assunto, “nós devemos honrar a verdade e meticulosamente observar o princípio da honestidade ao lidar com as evidências sobre todas as circunstâncias”.

O número 666 na verdade é 616?

Em 2005 foi descoberto um fragmento no apocalipse onde diz que o número da besta na verdade é 616 e não 666. O pedaço do texto fazia parte de uma série de manuscritos inteligíveis que haviam sido encontrados anteriormente no Egito. 

O professor e Crítico Textual do Novo Testamento e Paleontologia David Parker, professor de Crítica da Universidade de Birmingham, acredita que 616 seria o número, mesmo que ele seja um número difícil de gravar como o número 666.

“Esse é um tipo de guemátria, onde os números são baseados em valores numéricos que equivale a letras dos nomes das pessoas. Cristãos antigos usavam números para escondem a identidade das pessoas que atacavam. 616 é uma referência ao Imperador Calígula”, explicou o especialista.

O fragmento de papel foi encontrado na cidade egípcia de Oxyrhynchus e está escrito em grego, a língua original do Novo Testamento, e contradiz todas as versões convencionais da Bíblia, que consideram o 666 como o verdadeiro Número da Besta.

Porém em outras fontes parece que esse fragmento não foi encontrado em 2005 e sim em 1895 e que o mesmo faria parte do acervo do Ashmolean Museum, em Oxford, Inglaterra.

Os especialistas datam a sua idade não antes do ano 256, constituindo o fragmento mais antigo do texto de Apocalipse. Segundo Dr. Daniel B. Wallace, diretor do Centro para o Estudo dos Manuscritos do Novo Testamento, o texto é bastante legível, mesmo sem uma imagem sofisticada.

“Na verdade, o veredito ainda não está decidido. Estou inclinado a considerar que texto original aqui era 616, mas ainda é preciso muito trabalho para determinar isso. Embora este seja o fragmento mais antigo dessa parte do Apocalipse, o afinidade textual do fragmento e a confiabilidade geral ainda precisam ser examinados na íntrega.”

Concluindo:

William Branham acatou essa história, porém ela não é verdadeira, até os Adventistas viram que isso não procedia.

Segundo ponto, esse título nunca foi usado oficialmente, por mais que tenham usado em documentos e acreditado que o documento era verídico, nunca foi oficializado tal título.

Terceiro ponto, após serem examinadas as tiaras, não foi encontrado o titulo nas mesmas, muito menos no trono.

Agradecimentos:

Irmão Leandro de Freitas de Lageado – RS.

Pela contribuição de parte do material de pesquisa.

Referências:

https://en.wikipedia.org/wiki/Vicarius_Filii_Dei

https://en.believethesign.com/index.php?title=VICARIVS_FILII_DEI#cite_note-3

https://michelsonborges.wordpress.com/2018/06/15/o-numero-666-e-o-vicarius-filii-dei/

https://investigador-cristao.blogspot.com/2011/01/o-verdadeiro-numero-da-besta-666-ou-616.html

https://adventista.emnuvens.com.br/praxis/article/view/1579

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